ISABELLA MENON
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Luís Alexandre de Oliveira Lessa, 20, está preso preventivamente (sem prazo) em Salvador desde novembro de 2024, denunciado sob acusação de crimes digitais, como estupro virtual, incentivo a automutilação, comercialização de imagens de pedofilia, cyberbullying, stalking e violência psicológica contra mulher.
O caso foi divulgado pelo UOL e confirmado pela Folha de S.Paulo. De acordo com um inquérito a que a reportagem teve acesso, o Ministério Público de São Paulo descreve que Luís era conhecido em fóruns online pelos apelidos de "Sagaz" ou "Hitler da Bahia".
Segundo investigação, em uma das postagens feitas ele diz: "Você acha mesmo que, logo eu, o Hitler da Bahia, vou ligar?". Em outra mensagem, ele se refere a meninas menores de 18 anos como "ninfetinhas": "Já estava com saudades disso aqui, de mostrar para essas ninfetinhas quem continua mandando", escreveu ele.
Na época, Lessa era soldado recruta e exibia nas comunidades as fardas e as fotos no Exército.
Em nota, o Exército Brasileiro afirma que ele prestava serviço militar desde o início de 2024. Durante esse período, sofreu diversas punições disciplinares e foi excluído do serviço ativo em janeiro de 2025 -o processo a que responde criminalmente é independente da atuação no serviço militar.
Os crimes foram descobertos pelo Noad (Núcleo de Observação de Análise Digital), da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, e culminou na Operação Nix, que aconteceu em São Paulo, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal.
Na investigação, Luís foi apontado como um dos líderes de uma comunidade de ódio em plataformas como Discord e Telegram. Em nota, a defesa dele nega as acusações e afirma que ele tem demonstrado plena disposição para colaborar com as autoridades competentes.
Também diz acreditar "que todos os fatos serão devidamente esclarecidos e que a verdade prevalecerá" e que as alegações "serão oportunamente refutadas ao longo do processo, com base em elementos fáticos e jurídicos concretos, os quais demonstrarão a inconsistência das acusações que lhe foram dirigidas".
De acordo com a investigação, Luís integrava uma comunidade chamada Country, que tinha ao menos outros três líderes e mais de 600 membros.
Como os outros comandantes da comunidade são menores de 18 anos, foi instalado um procedimento na Vara da Infância e Juventude para apuração de atos infracionais e internação provisória. Além disso, o pai de um deles foi preso porque era por meio das contas bancárias dele que o filho recebia o dinheiro da venda de fotos de pedofilia.
Procurado, o Discord afirmou que as ações de grupos como o Country não têm espaço no Discord nem na sociedade. "Sobre o incidente relatado pela Secretaria de Segurança Pública, o Discord conduziu uma investigação interna aprofundada e continua firmemente comprometido em aprimorar seus processos internos", diz a plataforma. O Telegram não respondeu até a publicação desta reportagem.
A investigação mostra que entre os líderes havia uma organização clara com estrutura ordenada e divisão de tarefas com objetivo de obter tanto vantagens financeiras como poder no ambiente virtual. Eles mantinham um grupo central, mas havia outros paralelos em que combinavam os ataques.
A Promotoria também aponta que Lessa comandou um ataque em massa contra uma adolescente de 16 anos e membros de sua família. Para isso, ele encaminhava os dados de telefone de parentes e amigos da jovem no grupo, descrevia quem era cada um e orquestrava o ataque, que envolvia centenas de ligações e mensagens perturbadoras.
O grupo é classificado como uma panela. Como a Folha de S.Paulo mostrou em março, essa nomenclatura é usada para comunidade em que são realizadas crimes digitais.
Normalmente, membros começam namoros online com meninas e pedem nudes para elas. Quando migram para as comunidades, passam a expô-las ao vivo. Depois, eles começam a fazer chantagem, dizendo que se elas se recusarem a fazer algo, vão contar a seus pais ou expor suas imagens nas redes sociais.
Nesses casos, o grupo de investigadores também observa que as vítimas são alvo de agressões escalonadas. Fazer a menina cortar o cabelo, tomar água da privada ou se automutilar são exemplos desse tipo de violência.
Além destes crimes, é comum que as fotos coletadas sejam revendidas. Entre as comunidades que são investigadas pelo núcleo da polícia paulista, há algumas que possuam cerca de 100 mil seguidores espalhados pelo mundo.
VEJA DICAS DE COMO ACOMPANHAR SEU FILHO NA INTERNET