(FOLHAPRESS) - O Ministério da Educação (MEC) abre nesta segunda-feira (17) uma consulta pública a professores de matemática do fundamental e médio para reunir ideias de boas práticas de ensino da disciplina. A pesquisa, que acontece até o próximo dia 28, é parte de um conjunto de iniciativas, que teve início em 2024, para tentar melhorar o desempenho dos estudantes brasileiros em matemática, um dos piores do mundo.
Com as ações, embaladas em um programa batizado de Compromisso Nacional Toda Matemática, o governo Lula pretende dar ao ensino de matemática uma dimensão semelhante à da alfabetização -em 2023, foi lançado o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, que mobiliza as redes estaduais e municipais de ensino com metas de aprendizado, compartilhamento de métodos e premiação de bons resultados.
Desde o início de 2024, o MEC já promoveu webinários com estudantes e professores de matemática, lançou um guia para inovação no ensino da disciplina e criou o Clube de Letramento Matemático, programa que estimula ações coletivas e interdisciplinares, com o engajamento de alunos, para ensinar matemática de forma inovadora.
Um edital aberto em outubro de 2024 pelo Itaú Social, em parceria com o MEC, premiou 18 projetos de professores de matemática, do ensino fundamental 2 (6º a 9º ano) de escolas públicas, considerados criativos e inovadores.
Entre os vencedores, anunciados no mês de janeiro, estão, entre outros, a professora Márcia Viana, de Petrópolis (RJ), que trabalha conceitos de geometria a partir da dança, o coordenador pedagógico José Rosa de Brito, do Quilombo de Queimada Nova (BA), que ensina frações por meio da culinária quilombola, e o professor Antônio de Souza Silva, de Bacabal (MA), que dá aulas de robótica com materiais reciclados, associando a matemática à consciência ambiental. Cada um dos vencedores recebeu, para fomentar o projeto, prêmios de até R$ 80 mil, financiados pelo Itaú Social.
"Esse edital veio da percepção de que conhecemos pouco sobre metodologias inovadoras em matemática no país e que precisamos buscar essas estratégias", afirma à Folha de S.Paulo Patricia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social. "Devemos fomentar boas ideias, para que cheguem a outros professores e às redes de ensino do país."
Uma segunda iniciativa, a partir do edital, também em parceria com o MEC, será organizar uma rede colaborativa com os quase 1.400 professores inscritos, para a troca de experiências. Será lançado ainda outro edital, para a matemática no ensino infantil.
Guedes cita um dos dados dramáticos da educação no país: apenas 5% dos alunos de escolas públicas se formam no ensino médio com um aprendizado adequado em matemática -95% deles saem da escola sem dominar, por exemplo, a resolução de problemas com porcentagem. "É uma desigualdade que reverbera no horizonte de oportunidades que essas pessoas terão. E estudos mostram que isso também tem um impacto negativo para o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] no país", afirma.
O programa do governo federal, além de buscar exemplos de sucesso no ensino de matemática que possam ser escalados para as redes públicas no país, pretende atuar na formação continuada de professores da disciplina e em programas que identifiquem as lacunas de aprendizagem e atuem na recuperação dos estudantes.
"A ideia é que esse programa se torne não uma política de governo, mas de Estado, que possa perdurar, como é o caso do pacto pela alfabetização", diz Katia Smole, uma das maiores especialistas em formação de professores de matemática do país, diretora do Instituto Reúna, ONG que desenvolve pesquisas em educação, apoia redes públicas de ensino e está atuando como parceira do MEC no Compromisso Toda Matemática.
O programa tem parceria com universidades e deverá desenvolver acordos com Estados e municípios, com compromissos e metas no ensino da matemática. Além disso, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), ligado ao MEC, estuda formas mais eficientes e modernas de avaliação.
"É um projeto de longo prazo, mas a ideia é já termos um resultado melhor no Saeb [Sistema de Avaliação da Educação Básica] de 2027", diz Smole. No Saeb mais recente, aplicado em 2023, os alunos do 3º ano do ensino médio ficaram, na média, no nível 2 de proficiência em matemática, em uma escala que vai de 1 a 8.
No TIMSS 2023, Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências, de 72 países avaliados, o Brasil só ficou acima do Marrocos, do Kuait e da África do Sul no desempenho dos alunos do 4º ano em matemática. No 8º ano, em matemática, o Brasil ficou um último do ranking, empatado com o Marrocos.
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