São Paulo tem piores índices de poluentes inaláveis na década

VITOR ANTONIO E NICHOLAS PRETTOSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O estado de São Paulo registrou em 2024 os piores níveis de poluentes inaláveis da década, segundo dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) analisados pela Folha.

Por Cidades na Web em 25/09/2024 às 13:38:35

VITOR ANTONIO E NICHOLAS PRETTO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O estado de São Paulo registrou em 2024 os piores níveis de poluentes inaláveis da década, segundo dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) analisados pela Folha. Tratam-se de partículas invisíveis, nocivas à saúde, e derivadas de diferentes fontes.

Neste ano, as partículas finas, provenientes de queimadas, e as originadas de processos no solo e na indústria apresentaram concentrações respectivas de 42% e 51% acima da meta de qualidade do ar estipulada pela Cetesb.

Para esse cálculo, a reportagem considerou apenas estações de monitoramento contínuo de 2014 a 2024.

A meta da Cetesb foi criada para se aproximar das diretrizes de qualidade do ar estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Das estações que iniciaram a coleta de dados em 2014 e permanecem ativas neste ano, metade registrou recorde para as partículas finas (MP 2,5 -sigla para material particulado com 2,5 micrômetros). Já para o MP 10 (sigla para material particulado com até 10 micrômetros), 16 de 36 estações tiveram os resultados mais drásticos neste ano.

As partículas finas decorrem, muitas vezes, de queimadas e viram compostos químicos, sendo mais nocivas do que o MP 10, associado ao solo e à ação industrial, que circula no ar.

Ao analisar todas as estações disponíveis pela Cetesb, independentemente da continuidade de monitoramento, 2024 concentra 73% dos índices mais altos de partículas finas. Já dos 70 pontos que monitoram o MP 10, 21% apresentaram os maiores recordes.

Desde o início da série histórica da companhia, em 1998, os anos que concentraram a maior quantidade de estações com recorde de poluentes MP 10 foram 2010, 2012, e 2024. Para as partículas menores, os anos mais graves foram 2018, 2020, 2021 e 2024.

Ribeirão Preto é o município que apresentou os piores índices para poluentes inaláveis. Em 24 de agosto, a cidade registrou concentração média acima do nível de emergência para partículas maiores e de alerta para as menores. Às 19h daquele dia, a cidade apresentou uma concentração 3.000% acima da meta para o MP 10 e de 2.500% para as partículas finas.

Depois de Ribeirão Preto, os municípios com maiores recordes neste ano foram Santa Gertrudes, Catanduva, São José do Rio Preto, Rio Claro, Paulínia e Jundiaí.

Na capital paulista, a estação Ponte dos Remédios, na marginal Tietê, media MP 10 a nível 41,70% acima da meta em 11 de setembro, pior dia para São Paulo. Itaim Paulista e Congonhas apresentaram, respectivamente, índices 31% e 14% acima da meta para um dia na capital.

Em relação às partículas finas, a pior concentração também foi na estação da marginal, que mediu 85% acima da meta do poluente, seguida da estação de Parque Dom Pedro 2º, na zona leste, 71% acima da meta. Para as partículas menores, a capital teve ao menos 12 bairros com índices recordes em 2024.
Com a elevação de substâncias inaláveis diante da seca prolongada e das queimadas no Brasil, a população dos locais mais afetados sente sintomas alérgicos e respiratórios, e fica exposto a doenças mais sérias.

O médico patologista Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, afirma que, no limite, a exposição a MP 10 e MP 2,5 se associa a adoecimento e mortalidade.

No caso do MP 10, que também deriva de queimadas, ela pode adentrar os pulmões, causando irritação e sintomas respiratórios.

Já as partículas finas, presentes em queimadas e que se tornam um aerossol em contato com a seca e à radiação UV, penetram nas camadas mais profundas dos pulmões e podem se espalhar por todo o corpo. Esses novos compostos podem ser mais reativos que os originais, formados a partir da queima, gerando hidrocarbonetos e evoluindo para substâncias cancerígenas.

A exposição ao MP 2,5 equivale a fumar cigarros ou folhas de tabaco de forma constante. O grupo mais propenso a desenvolver doenças são bebês, que ainda estão desenvolvendo o sistema imunológico, e idosos, que ficam sensíveis ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

"Imagino que vamos ter um aumento de mortalidade nas cidades mais afetadas e uma sobredemanda do sistema de saúde para consultas e internações hospitalares, e não estou falando de atenção primária", avalia Saldiva.

Mesmo com índices inéditos, para ele, a atual situação da qualidade do ar era previsível diante da escalada de queimadas no país nos últimos anos, que influenciam a qualidade do ar e a precipitação. "Por não termos feito nada no passado, vamos ter que trabalhar o dobro para recuperar dessa situação caótica."

METODOLOGIA
A Folha de S.Paulo extraiu os dados do sistema de notificações Qualar, da Cetesb, e os analisou com base em médias diárias. Considerou apenas as amostras com ao menos 18 horas de dados por dia, representando 75% do total de medições de um dia, seguindo a metodologia da companhia. O período vai de 1º de janeiro de 2014 a 11 de setembro de 2024.

Os dados foram classificados segundo os padrões de ar definidos por decreto estadual de 2013, que indica a meta diária para cada poluente. Os indicadores não podem superar 100 microgramas por metro cúbico para MP 10 e 50 microgramas por metro cúbico para partículas finas.

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